
Numa conversa no MSN, Diego me falou do que as coisas que Clarice escreveu provocam nele. Concordamos em dizer que Clarice nos diz. Coisas de Clarice pra vc, Di.
Sim, esta é a vida vista pela vida. Mas de repente esqueço como captar o que acontece, não sei captar o que existe senão vivendo aqui cada coisa que surgir e não importa o quê: estou quase livre de meus erros. Deixo o cavalo livre correr fogoso. Eu, que troto nervosa e só a realidade me delimita.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
O mundo não tem ordem visível e eu só tenho a ordem da respiração. Deixo-me acontecer.
Quero ser enterrada com o relógio no pulso para que na terra algo possa pulsar o tempo.
No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza.
Arrepio-me toda ao entrar em contato físico com bichos ou com a simples visão deles. Os bichos me fantasticam. Eles são o tempo que não se conta. Pareço ter certo horror daquela criatura viva que não é humana e que tem meus próprios instintos embora livres e indomáveis. Animal nunca substitui uma coisa por outra.
Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana. É nossa. Eu me entrego em palavras e me entrego quando pinto.
Dor é vida exacerbada. O processo dói. Vir-a-ser é uma lenta e lenta dor boa. É o espreguiçamento amplo até onde a pessoa pode se esticar. E o sangue agradece. Respiro, respiro.
É tão bom que as coisas não dependam de mim.
Oh, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem.
2 comments:
Adorei esse trecho:
"Quero ser enterrada com o relógio no pulso para que na terra algo possa pulsar o tempo."
E como diria Cazuza: "O tempo não pára."
Bjs.
P.S. Eu preciso ler Clarice...
:)
Lily, obrigado pelo post!
Clarice é sempre maravilhosa... e só você para conseguir extrair o melhor dela. =D
Saudades gigantes...
Bjos.
Post a Comment