Monday, September 24, 2007

Sunday, September 23, 2007

=X




















Picture 1: Pedro Targino - my action 6 student
Picture 2: Nayana Coutinho - my action 6 student
Esse povo que vive mostrando as peças íntimas... sei não, viu?

Sunday, September 09, 2007

Ai ai...


É, mais um domingo está se indo... se produzi? depende... não fiz o que tinha de fazer do trabalho, mas fiz coisas que me deram muito prazer, como por exemplo:


1) Ler Clarice Lispector. Caramba! É sempre formidável lê-la. Hoje, li Água Viva. Já tinha começado há um tempo atrás e parado. Comecei tudo de novo e, como não podia deixar de ser, foi fantástico. Vê só uns trechos do que me fez feliz hj:


"O mundo não tem ordem visível e eu só tenho a ordem da respiração. Deixo-me acontecer."


"Minha liberdade pequena e enquadrada me une à liberdade do mundo - mas o que é uma janela senão o ar emoldurado por esquadrias? Estou asperamente viva."


"Mas a palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É.
Estou no seu âmago.
Ainda estou.
Estou no centro vivo e mole,
Ainda.
Tremeluz e é elástico. Como o andar de uma negra pantera lustrosa que vi e que andava macio, lento e perigoso. Mas enjaulada não - porque não quero. Quanto ao imprevisível - a próxima frase me é imprevisível. No âmago onde estou, no âmago do É, não faço perguntas. Porque quando é - é. Sou limitada apenas pela minha identidade. Eu, entidade elástica e separada de outros corpos."


"Então sonhei uma coisa que vou tentar reproduzir. Trata-se de um filme que eu assistia. Tinha um homem que imitava artista de cinema. E tudo que esse homem fazia era por sua vez imitado por outros e outros. Qualquer gesto. E havia a propaganda de uma bebida chamada Zerbino. O homem pegava a garrafa de Zerbino e levava-a à boca. Então todos pegavam uma garrafa de Zerbino e levavam-na à boca. No meio o homem que imitava artista de cinema dizia: este é um filme de propaganda de Zerbino e Zerbino na verdade não presta. Mas não era o final. O homem retomava a bebida e bebia. E assim faziam todos: era fatal. Zerbino era uma instituição mais forte que o homem. As mulheres a essa altura pareciam aeromoças. As aeromoças são desidratadas - é preciso acrescentar-lhes ao pó bastante água para se tornarem leite. É um filme de pessoas automáticas que sabem aguda e gravemente que são automáticas e que não há escapatória. O Deus não é automático: para Ele cada instante é. Ele é it."


"Será que isto que estou te escrevendo é atrás do pensamento? Raciocínio é que não é. Quem for capaz de parar de raciocinar - o que é terrivelmente difícil - que me acompanhe. Mas pelo menos não estou imitando artista-de-cinema e ninguém precisa me levar à boca ou tornar-se aeromoça."


"Preciso sentir de novo o it dos animais. Há muito tempo não entro em contato com a vida primitiva animálica. Estou precisando estudar bichos. Quero captar o it para poder pintar não uma águia e um cavalo, mas um cavalo com asas abertas de grande águia."


"Mas não sei como captar o que acontece já senão vivendo cada coisa que agora e já me ocorra e não importa o quê. deixo o cavalo livre correr fogoso de pura alegria nobre. Eu, que corro nervosa e só a realidade me delimita. E quando o dia chega ao fim ouço os grilos e torno-me toda cheia e ininteligível. Depois a madrugada vem com seu bojo pleno de milhares de passarinhos barulhando. E cada coisa que me ocorra eu a vivo aqui anotando-a pois quero sentir nas minhas mãos perquiridoras o nervo vivo e fremente do hoje."


"Vou te dizer uma coisa: não sei pintar nem melhor nem pior do que faço. Eu pinto um "isto". E escrevo com "isto" - é tudo o que posso. Inquieta. Os litros de sangue que circulam nas veias. Os músculos se contraindo e retraindo. A aura do corpo em plenilúnio. Parambólica - o que quer que queira dizer essa palavra. Parambólica que sou. Não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maças. Eu sou uma cadeira e duas maças. E não me somo."


2) Ouvi Legião Urbana, e a beleza de músicas como "Perfeição":


"Venha, meu coração está com pressa, qdo a esperança está dispersa, chega de maldade e ilusão. Venha, o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera, só a verdade me liberta. Venha, que o que vem é perfeição!"


3) Ouvi também Jack Johnson:


"Look at all those fancy clothes,

But these could keep us warm just like those.

And what about your soul? Is it cold?

Is it straight from the mold, and ready to be sold?

And cars and phones and diamond rings,

Bling, bling, because those are only removable things.

And what about your mind? Does it shine?

Are there things that concern you, more than your time?

Gone, going. Gone, everything. Gone, don’t give a damn.

Gone, be the birds, when they don’t wanna sing.

Gone, people, all awkward with their things,

Gone."


4) Trilha sonora de "Amélie Poulain", e daí me senti dentro do filme... parecia q tava andando naquelas ruas, no café q ela trabalha e naquela casa lindinha q ela mora.


5) Falei com meu pai no MSN! E ele disse q me amava!


6) Tive um desentendimento com Luca... mas acho q foi pro nosso bem!


7) Vi Priscila e fui à casa dela depois q ela chegou de viagem dizendo que tudo foi muito bom lá em Recife.


8) Conversei com Verônica no MSN e passei o livro "Água Viva" pra ela, que adorou um trecho do livro que citei, falando de violetas... lindo o trecho!
"A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita nunca o seu perfume. Violeta diz levezas que não se pode dizer."

9) Acabei de conversar com Lia, que há tempos não conversava, e que segundo ela mesma foi uma conversa que teve de tudo!


10) E tive uma conversa de segundos com Val, meu querido, que teve que dar o seu lugar no PC ao sobrinho :)... That's OK dear! We'll chat later!

Friday, September 07, 2007

Marc Chagall











































É como me sinto ao ser levantada num abraço...

Monday, September 03, 2007

Paulo José e suas lindas leituras no Fantástico

Amar (Drummond)
(foi ao ar no dia 26.08.07)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Das Vantagens de Ser Bobo (C. Lispector)
(foi ao ar no dia 02.09.07)

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


Amoureux de Vence
Marc Chagall